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Até quando?

Há quase oito anos saí do Brasil para viajar pela Europa e pensava em talvez ficar para estudar ou trabalhar por aqui. Tinha terminado um namoro, procurado trabalho e não encontrado. Achava que um outro mundo era possível e logo ao chegar em Madri, percebi que estava certa. Este outro mundo que falo é o que há segurança mínima para se sair na rua a hora que se quer e não se tem medo. Saí de Porto Alegre com medo pois dois domingos antes da viagem fui abordada por um pedinte, na minha rua (num bairro de classe média), que queria 30 centavos. Neguei e fui ao super. Na volta ele estava no mesmo lugar, viu as minhas compras e me pediu novamente. Neguei e ele ameçou jogar uma pedra em mim caso eu subisse a rua. Fiquei em pânico, ninguém na rua fazia nada nem os porteiros. Depois de uns 5 minutos, veio uma moça e chamou a polícia. Naquele dia não tive coragem de sair de casa e nos seguintes morria de medo de encontrá-lo pois ele vagava pela avenida ali perto e tinha receio de ele me reconhecer e me ameaçar de novo.
Passaram-se quase oito anos que moro aqui na Croácia e é a primeira vez que não irei ao Brasil (fui todos os anos). A razão é porque a minha irmã me desaconselhou a ir com a Maíra pois o caos é tão grande, politicamente e nas ruas também. Em Porto Alegre, há umas duas semanas, a Polícia entrou em greve e houve assaltos e linchamentos por vários lugares. Pela minha segurança e a da minha filha resolvi não ir. Penso no absurdo que é isso. Pra quem mora aí, de certa forma, se está acostumado a viver com medo e a sair aos lugares em determinados horários, sempre de olhos arregalados. No entanto pra quem está fora, melhor dizendo pra mim, é inconcebível este modo de vida e pior, como passei tanto tempo longe, não sei mais o quão perigoso é e morro de medo de voltar para visitar. 
Uma hora atrás falei pelo skype com a minha mãe e ela me disse que houve ontem às 16h da tarde um tiroteio na quadra dela e uma pessoa foi morta. Como é que pode? Até quando isso irá acontecer pelas ruas do Brasil? É nestes momentos que dou graças a deus de estar aqui com a minha filha e de ter decidido não visitar a minha família este ano.  Mas o que não sai da minha cabeça é até quando este tipo de coisa ocorrerá e será que no ano que vem não estará pior? Infelizmente não tenho a resposta.

Comentários

  1. Terrível, Marília... Tenho as tias na grande São Paulo e não vou lá de jeito nenhum. Elas mesmas dizem que o caos impera; esses mendigos podem ser ex presidiários sem raiz, sem nada a perder.
    Meu filho trabalha como engenheiro aqui mesmo na cidade e nem pensa em ganhar o triplo na capital.
    Eu não imaginava que Porto Alegre fosse como São Paulo e Rio. Tão perto do Uruguai!

    Beijos esperançosos

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  2. Tá brabo,né Cristina. Ainda bem que ele está aí. Infelizmente tb tá complicado em Poa.
    Bjs esperançosos e bom te ver por aqui!

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  3. Custa a acreditar!!!!!!! Que pena!!!!

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  4. O Brasil é uma terra muito boa e muito rica
    Só tem uma coisa que não presta e estraga tudo. Adivinha qual.

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  5. O Brasil é uma terra muito boa e muito rica
    Só tem uma coisa que não presta e estraga tudo. Adivinha qual.

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  6. Olá Marília! Compartilho o mesmo medo e inconformismo... Sou professora em Salvador BA. Aqui a realidade de vida é ainda pior devido ao baixo poder aquisitivo e a falta de acesso à informação. da maior parte da população. Tenho pensado muito em sair do Baril. Muitas oportunidades de emprego na Croacia?
    Maria

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    1. Olá Maria,infelizmente aqui o desemprego é grande,mais de 20%! Não recomendo!

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  7. Olá Marília, encontrei o seu blog através do blog da mamae sustentavel. E esta postagem chamou-me a atenção, nunca fui ao Brasil por isso não conheço a realidade presencialmente, também nunca fui à Croácia. Mas bem um dia estava a falar com um casal brasileiro que estava de férias em Portugal. Eles estavam a dizer que o Rio de Janeiro nem era assim tão perigoso e começaram a dizer que a pessoa tem é de ter cuidado para não sair com muitos valores, mas também deve sair com algum dinheiro não vá o assaltante ficar chateado de não ter nada, que não convem andar com os vidros do carro abertos, que não convem andar depois de não sei que horas sozinhos, que não convem isto e aquilo. Na altura eu fiquei em choque, no fim eles perceberam e disseram que se calhar era mesmo perigoso, eles é que já estavam habituados.

    Mas bem pelo que já percebi de outros brasileiros, nem todos os locais no Brasil são assim.

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  8. Acabei de chegar de Zagreb, Split e Rovinj.
    Gostei muito do sul, pena não ter areia.
    E claro Valalta

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